Ferias 2.0

Acho que essas férias serviram mesmo de base para uma certa identificação pessoal. Eu estava cansada, com fome, jogada e acabada. Eu não estava me entendendo. Acho que me encontrei de novo dentro de mim nessas duas semanas. Ainda bem. Cheguei em minas e perdi minha identidade, porque as pessoas queriam assim.
Eu não preciso ter medo deles, ou ter a sensação de que devo provar alguma coisa para alguém. Eu não sou uma pessoa tímida, eu converso, não tenho vergonha, não tenho medo do que vão pensar de mim. Normalmente sou de riso fácil e de assunto leve. Em minas o peso do ar, a pressão de ser uma adolescente inconsequente me pegou, e estou rindo enquanto escrevo isso porque é verdade. Na universidade (pelo menos lá) todo mundo tem tanta sede (ou finge ter) de coisas perigosas; ou são naturalmente tão viciados em serem jovens boêmios e da noite, que o medo de não ser aceita por ser uma adolescente careta me dominou. Então, exatamente por esse medo de me rejeitarem por ser certinha e de ter vindo de uma realidade diferente com ensinamentos distintos, eu me calava, e nem sei porque fiz isso. Nunca fui de ter vergonha de quem eu sou por dentro, não sei porque isso me travou. Eu tinha medo também de ser solitária demais, por me sentir diferente. Alguma coisa não encaixava, e eu percebi isso desde o primeiro dia de aula. Acontece que eu havia de dar uma chance para aquele lugar, dar uma chance para o esforço da minha mãe, para a universidade e para a cidade, que sim, carrega pessoas maravilhosas também. Conheci pessoas muito boas e divertidas, principalmente na minha turma de publicidade (que é constituída por 19 alunos).
Continuando a história, no começo eu fui meio leviana comigo mesma e me deixei levar, e desejar ser daquela maneira também. Parecia bom, parecia libertador e parecia certo. Para mim, que nunca havia feito nada de errado na vida, parecia muito correto, parecia real. Mas não foi verdade. Aquilo não me preenchia, e eu me lembrava de quando eu ia para a igreja e me falavam que essas coisas realmente não preenchiam (risos) então pensei que talvez eles estivessem certos. Não sobre tudo, não acho que ir para a igreja e participar dos cultos seja o a jarra que deixaria o meu copo cheio por completo. Mas outras coisas.
Quando voltei para São Paulo no final de julho, vi meu copo se enchendo e agora ele está até o topo de novo. Tudo aquilo ficou em minas, aquela solidão, aquela mesmice, aquele peso, e em solo paulista pude ser eu de novo, sem ter que dar pequenas explicações sutis do porque eu sou assim, ou assado. Aqui as pessoas são tão eu, e eu me orgulho tanto. Vi meus amigos, comi a comida da minha mãe, dormi abraçada com meus animais, fiquei com a minha família... passeei pela cidade, fui a museus, ri com meus amigos, falei sobre o passado e sobre o presente, vi a chuva cair e o sol raiar depois de um tempo frio, e vi esfriar de novo, como eu gosto. Também senti saudade do caos, da vida regrada, da simplicidade de alguns momentos da minha vida que ficaram para trás e não tem volta, ouvi Chico, Tom, Vinicius, e conversei com meu pai sobre os assuntos de sempre, que incluem a Fatima Bernardes e o transito na Avenida Aricanduva (isso sempre). Aqui encontro pessoas como eu, que transbordam com pouco, uma conversa, um sorriso, arte, música, e sobre o que vem depois.
Eu tentei gostar, tentei me acostumar e não me sentir presa. Eu queria não ter deixado minhas coisas para trás, meu emprego, meus cursos, mas faz parte da transição, da vida, que no final, vai ter sido só mais uma vida. Então eu penso na experiencia, que apesar de tudo, isso me trouxe... E volto atrás.
Eu sinceramente, não sei o que vai ser de mim. Não sei se terei que permanecer por lá até o final da graduação, e não sei se conseguirei voltar antes com meus planos estabilizados. Só sei que sou feliz por ter tido esse clarão nessas férias, de ter passado por esse auto reconhecimento e de ter finalmente aceito que não preciso me encaixar; tudo vai passar, essas pessoas vão passar, essa fase e logo tudo isso será passado. Estou contente também em saber, que daqui 4 meses, quando eu já estiver cansada e judiada, com meu copo vazio de novo... poderei voltar para me encher (até derramar) novamente.


Thaís

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