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Resultado de imagem para legiao urbanaHá pouco estava assistindo alguns vídeos sobre Clarice Lispector. Logo pensei que as nossas discussões diárias e vida estão ficando meio que “claras” demais. Não existe mais nenhum mistério entre nossas curvas, nenhum tipo de segredo ou história. Estamos crus, e isso me faz chorar. Não estamos mais interessados em profundidade. A vida, perdeu o ar denso e curioso para maioria das pessoas. Viver é fácil e efêmero, viver é comum. Viver não é mais um paradigma, muito menos uma surpresa. Queria entender, queria que entrasse na minha cabeça o porquê de sermos assim. Eu não quero parecer chata, mas antes falávamos sobre amor, discutíamos a vida, existiam mais fotos sorrindo do que com carões estampados na internet. Os tons pastéis, a naturalidade de um entardecer jogando bola, tudo era mais leve como uma música doce, tudo era mais puro e mais gentil, nosso corpo era tocado com carinho e não agressividade; nossos momentos transpassados eram marcados em poucas fotos eternas no lugar de muitas fotos descartáveis. Agora estamos em uma fase obscura, onde o cansaço nos impede de enxergar. Olhos com véus e mãos com luvas invisíveis.
Falando um pouquinho de uma coisa totalmente diferente, mas nem tanto, hoje senti muita saudade de escutar legião urbana, falar com Eduardo e Mônica; músicas atemporais que marcaram uma época saudosa da minha vida. All Star vermelho, uniforme escolar, conversas sobre música com o Silas... Lembro de épocas despreocupadas em que nas férias eu ficava tardes inteiras, o rádio ainda ficava na sala, não no escritório, eu deitava no sofá enquanto escutava faroeste caboclo. O sofá era novinho, ainda não era usado (meu pai reclamava se eu deitava, comia, ou colocava os pés nele, então esses momentos sozinha eram o sofá, eu e a liberdade, risos ) nem existia spotify e sim pen drive, baixava todas as músicas, maior trabalhão e depois relaxava escutando as minhas preferidas.

Nem me lembro quando comecei a gostar de Vinicius por exemplo. A gente não marca as coisas, existem momentos, flashes que ficam na nossa mente, como por exemplo uma tarde em que eu estava em cima da minha bicicleta no quintal de casa, e de alguma maneira havia baixado garota de Ipanema em um celular antigo que eu tinha. Lembro da minha mãe pela janela, provavelmente cozinhando, um dia ensolarado, uma tarde bonita, eu cantarolando, minha bicicleta é azul, e hoje quase que invisível. Também lembro da primeira vez que Chico me chamou atenção de verdade. Sempre gostei de João e Maria, e de algumas de suas músicas, mas minha mãe escutava sempre as letras nas vozes de umas moças que cantam só Chico e é lindo, no entanto, eu nunca havia prestado muita atenção. Só que um dia, ela pegou e mostrou-me futuros amantes, e mandou eu prestar muita atenção na letra. Disse que era lindo, me explicou, comentou que o amor retratado era tão grande que ultrapassava as barreiras do tempo, e mais várias coisas e aquilo me tocou profundamente. Minha mãe me fez me apaixonar pelo Chico. Outro dia, até tentei explicar a letra para a Amanda que mora comigo. Ela não se impressionou muito, o que em mim causou estranheza. Até agora não sei se ela não ficou tocada pela explicação, ou se eu não tinha o mesmo encanto da minha mãe para explicar a música, que é tão linda.

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